Um projeto político e a saída para a dívida mineira
crédito: Soraia Piva
Quem olhou para a foto e quis ver, viu. Parlamentares mineiros tomaram para si, em Brasília, as rédeas da construção de uma saída para a dívida do estado com a União. Nada contra ninguém. É que todo vácuo comporta matéria. E se compreendem a política, nem precisam apelar para Tim Maia. O motivo está dado. O que aconteceu no Congresso Nacional nesta quinta-feira foi, em verdade, parte da cadência de uma sucessão de eventos, desencadeada pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD). Em evento na Fiemg, em 30 de outubro, o ministro apontou o dedo para o governador mineiro e gritou: “O rei está nu”.
Seria ingenuidade imaginar que, quando Silveira criticou a omissão política de Romeu Zema (Novo), por não buscar interlocução com o governo federal na questão da dívida de Minas, o fez como uma biruta, ao saber do vento. Até as pedras compreenderam que ali estava dado o script de um roteiro previamente acertado com o presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD), e com o presidente Lula (PT). Pois é certo que se Silveira anunciou que só Pacheco, pela posição de poder e interlocução com o governo federal, poderia apresentar uma solução factível para a dívida mineira, é porque já havia um plano em curso.
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E de fato há proposta. Nem precisaria ser tão boa, para ser melhor do que o Regime de Recuperação Fiscal (RRF) apresentado à Assembleia Legislativa por Zema. Tal plano deixaria, em nove anos, depois de todos as empresas mineiras privatizadas e ativos entregues, um legado de R$ 210 bilhões de dívida, algo como dois orçamentos fiscais de Minas Gerais. As premissas da proposta articulada por Pacheco e Silveira: 1º) Federalização da Codemig, da Cemig, da Copasa, com amortização da dívida mineira; 2º) A módica compensação da Lei Kandir - R$ 8,7 bilhões - que o estado receberá da União depois de abrir mão de R$ 126 bilhões a que teria direito, seria amortizada; 3º) Os valores de reparação da tragédia da Vale, também seriam abatidos, com a vantagem de que, federalizados, seriam reinvestidos em Minas, adicionalmente às obras previstas do PAC; 4ª) O abatimento de créditos do estado em ações judiciais relativa ao Fundef e à Previdência. Pacheco propõe ainda a revisão dos cálculos, com auditoria da dívida, além de também ser considerada a possibilidade abatimento de um percentual do saldo, com novos dispositivos que estimulem estados a quitar suas dívidas. Tudo posto na balança, a estimativa é de que, sem penalizar servidores, mais da metade dos quase R$ 160 bilhões, seria quitada. O resto, dividido em dez anos. Porque não paira sobre o vácuo, a proposta é factível. Acionadas as consultorias técnicas do Senado e da Assembleia Legislativa, já trabalham no escopo técnico.
A dívida passa. Mas fica a foto, PSD, MDB, PT, Republicanos, PDT, PL. Ali estão representantes da Assembleia Legislativa, da bancada federal mineira e do Senado Federal. Também diz sobre o nascimento de um projeto político. Talvez, nessa foto, esteja um futuro governador.